Fintechs crescem, mas não ameaçam bancos, avalia Fitch
SÃO PAULO - Se o momento favorece o crescimento das empresas financeiras de tecnologia, conhecidas como fintechs, há um longo caminho pela frente para que elas possam ameaçar os grandes bancos de varejo do Brasil. A análise da Fitch Ratings é que as principais instituições financeiras do país estão repensando suas estratégias de atuação digital, o que tende, no médio prazo, a diminuir o espaço que as fintechs têm para crescer.
A agência publicou hoje relatório em que conclui que as fintechs ainda não ameaçam o perfil de crédito do setor bancário, que deve continuar dominado por grandes bancos tradicionais e altamente concentrado.
O diagnóstico da agência é que o momento atual é de oportunidades para as fintechs, que tendem a se beneficiar de uma série de gargalos — tecnológicos ou de produtos e serviços — dos grandes bancos. Num segundo momento, porém, os bancos tendem a endereçar esses gargalos, tomando de volta esse espaço. “A dúvida é qual vai ser a capacidade das fintechs em continuar encontrando oportunidades”, diz Raphael Nascimento, analista de instituições financeiras da Fitch.
Os custos regulatórios das fintechs também tendem a aumentar no médio prazo, afirma Claudio Gallina, diretor da Fitch. “Há uma necessidade de se criar um marco regulatório forte, mas que ao mesmo tempo não eleve demais os custos”, afirma. Para ele, na medida em que as fintechs crescem, ficam sujeitas a exigências maiores não só do regulador, mas também de outros participantes da indústria financeira do país, caso das bandeiras de cartão (Visa, MasterCard), por exemplo. Esses fatores tendem a ter impactos sobre suas estruturas de custos.
Gallina levanta outro obstáculo a ser enfrentado pelas fintechs nos próximos anos: a retomada do crescimento econômico, que pode acabar aumentando o apetite dos bancos por novos clientes e limitando o espaço que as fintechs têm para atuar. A inadimplência é outro problema potencial. “Toda vez que há um crescimento rápido na base de ativos, é seguido pela inadimplência. As fintechs serão capazes de endereçar a inadimplência à frente?”, diz. Nas contas deles, há 150 fintechs em atuação no Brasil atualmente, a maioria no segmento de crédito “peer-to-peer” (P2P) e de pagamento digital.
“Os grandes bancos do Brasil enfrentam crescente competição de empresas que fogem de seu tradicional — e às vezes rígido — modelo de negócios. Para reforçar sua presença no ambiente digital, alguns bancos têm adquirido ou criado parcerias com bancos comerciais locais que se mudaram para o segmento de bancos digitais ou de pagamentos online nos últimos anos”, escrevem os analistas, no relatório. “Uma rede de agências pequena, porém moderna, pode ser mais eficiente em termos de custo no longo prazo, pois elas e seus funcionários representam a maior parte da base de custos de varejo de um banco grande. Boa parte dessas despesas poderia ser cortada via automatização.”